Faculdade Phorte - Exercício resistido X Crianças e adolescentes
  • (11)2222-1222
  • (11)2222-1222

Exercício resistido X Crianças e adolescentes

Imagem da notícia Exercício resistido X Crianças e adolescentes

Exercício resistido X Crianças e adolescentes

Dr. Jan

Dr. Jan Willem Cerf Sprey

CRM: 141027
Coordenador do curso de Pós em Medicina Esportiva

 

 

INTRODUÇÃO

Hoje em dia, percebe-se um interesse crescente de crianças e adolescentes em programas de exercício resistido. No entanto, o treinamento de força nessa faixa etária ainda é um tema polêmico para médicos, profissionais de educação física e mesmo pais.

Existe a preocupação de que o exercício resistido seria prejudicial para o crescimento de crianças e adolescentes, além de poder gerar possíveis lesões.
Outra crítica é que exercícios resistidos seriam ineficazes nessa faixa etária, em razão dos baixos níveis hormonais.

Um estilo de vida sedentário e com poucas atividades ao ar livre é observado em uma grande parcela da população dessa faixa etária, e o aumento da obesidade infantil já é tido como um problema de saúde pública. Nos Estados Unidos, ao longo dos últimos 30 anos, o número de obesos dobrou entre as crianças e triplicou entre os adolescentes, e mais de um terço das crianças e adolescentes estão com sobrepeso ou obesidade.

Há evidências científicas suficientes que corroboram a prática regular de exercícios resistidos na infância com o objetivo de melhora da saúde e do condicionamento físico, além da melhora da performance esportiva.

LESÕES

Quando observamos modalidades de esportes de força, é possível perceber que são significativamente mais seguras que muitos outros esportes, como futebol, basquete e handebol. Esportes de contato e que envolvem mudança brusca de direção têm taxas de lesões duas a três vezes maiores do que esportes de força, como musculação, levantamento de peso e mesmo CrossFit.

Em uma avaliação retrospectiva de taxas de acidentes em crianças e adolescentes, observou-se que o treinamento resistido e o levantamento de peso foram significativamente mais seguros do que muitos outros esportes e atividades.

As lesões agudas relacionadas ao treinamento resistido são geralmente acidentais e ocorrem pela falta de supervisão ou pela supervisão realizada por indivíduos não qualificados. Excesso de carga e movimentos incorretos são causas frequentes.

Entre as lesões verificadas, 77,2% são acidentais e seriam evitáveis caso houvesse supervisão adequada.

Em comparação com adultos, crianças apresentam menor chance de sofrer lesões por sobrecarga, como distensões e estiramentos.

LESÕES DA PLACA DE CRESCIMENTO

Umas das preocupações dos profissionais de saúde quanto à indicação de exercício resistido para indivíduos ainda em fase de crescimento é a possibilidade de lesão da placa de crescimento do osso (placa fisária ou fise).

Esse receio é justificado pelo fato de que lesões nessa região podem ocasionar distúrbios no crescimento do membro acometido e deformidades. Sabe-se que a placa de crescimento é de três a cinco vezes mais fraca do que o osso ao seu redor.

Na revisão sistemática da literatura realizada pelo Grupo de Trauma no Esporte da Santa Casa de São Paulo, não encontramos relatos de casos de lesão na placa de crescimento. Essa ausência certamente se deve ao fato de que todos os programas de exercícios avaliados foram supervisionados por profissionais qualificados e realizados em ambientes adequados.

Além disso, apesar da conhecida maior fragilidade da fise, ela consegue suportar cargas maiores do que aquelas usualmente utilizadas nos treinos de exercício resistido. Em outras atividades esportivas que levam ao impacto do peso contra o solo, como vôlei e basquete, o impacto sobre a fise pode ser de cinco a sete vezes a massa corporal.

CONCLUSÃO SOBRE LESÕES

Evidências acumuladas deixam claro o baixo risco de lesões relativas ao treinamento resistido em comparação a outras formas de participação esportiva, demonstrando a segurança geral e a eficácia desse tipo de treinamento para crianças e adolescentes.

Os resultados indicam que as crianças têm menor risco de entorses e distensões musculares em comparação aos adultos submetidos ao treinamento resistido. A maioria das lesões são decorrentes de acidentes potencialmente evitáveis com o aumento da supervisão e com orientações de segurança mais rigorosas.

TREINAMENTO RESISTIDO E CRESCIMENTO

O treinamento resistido durante a infância e a adolescência gera muita preocupação quanto à sua segurança na fase de crescimento. Muitos profissionais contraindicam musculação e outros exercícios com peso nessa faixa etária, porém, não existe nenhum embasamento científico para isso.
Não há evidências científicas que indiquem que o treinamento resistido terá um efeito adverso no crescimento linear durante infância e a adolescência, nem evidências que apontem para alterações na altura final.

Além disso, estudos indicam que a infância é um excelente momento para construir massa óssea e para melhorar a estrutura óssea através de atividades físicas com peso. O início precoce dessa prática gera melhor qualidade óssea na idade adulta e na velhice.

ALTERAÇÕES HORMONAIS

Atualmente, a inclusão do exercício resistido com o intuito de melhorar a performance de atletas adolescentes, pré-adolescentes e crianças é uma realidade em diversas modalidades esportivas. Isso gerou a preocupação da comunidade científica e de pais, e passou-se a questionar se a inclusão desse tipo de atividade física poderia alterar os níveis hormonais que regulam a puberdade.

As preocupações seriam se o exercício resistido poderia atrasar a puberdade e a maturação sexual de crianças e pré-adolescentes, ou até mesmo adiantá-las.
Todavia, nenhum estudo observou esse tipo de alteração.

A imaturidade do eixo hipotálamo–hipófise não permite o aumento da testosterona plasmática em crianças submetidas a exercício resistido.

PREVENÇÃO DE LESÕES

Atletas adolescentes que incorporaram treinamento de força em sua rotina sofreram menos lesões e apresentaram recuperação mais rápida, permanecendo menos tempo em reabilitação.

O risco de lesões por sobrecarga e de lesões graves diminui quando exercícios resistidos são adicionados ao treinamento de atletas infantis e adolescentes.

CONCLUSÃO

Exercícios voltados ao fortalecimento muscular são essenciais na preparação de um atleta, inclusive crianças e adolescentes.  

Ganho de força impacta positivamente aspectos da performance física.

Programas adequados de fortalecimento diminuem a incidência de lesões tanto traumáticas quanto por sobrecarga.

O treinamento resistido é comprovadamente seguro para crianças e adolescentes, e não põe em risco seu crescimento, sua maturação sexual e sua altura final.

A prescrição do exercício resistido deve ser realizada levando em conta a idade, o esporte, o tempo de prática, a competência motora e a força existente.

Treinamento com pesos deve ser sempre supervisionado e orientado por profissionais habilitados.

BIBLIOGRAFIA

Faigenbaum AD. Psychological benefits of prepubescent strength training. Strength and Conditioning 1995;17(2):28-32.

Faigenbaum AD, Myer GD. Resistance training among young athletes: safety, efficacy and injury prevention effects. Br J Sports Med. 2010 January;44(1):56-63.

Kraemer WJ, Fleck SJ. Strength training for children: the controversy resolved. In: Strength training for young athletes. Champaign: Human Kinetics; 2005. p. 1-9.

Myer GD, Quatman CE, Khoury J, Wall EJ, Hewett TE. Youth Versus Adult “Weightlifting” Injuries Presenting to United States Emergency Rooms: Accidental Versus Nonaccidental Injury Mechanisms. J Strength Cond Res 2009 October;23(7):2054-2060.         

Rians CB, Weltman A, Cahill BR, Janney CA, Tippett SR, Katch FI. Strength training for prepubescent males: is it safe? The American Journal of Sports Medicine 1987. vol. 15, n. 5.

Sewall L, Lyle MJ. Strength training for children. Journal of Pediatric Orthopaedics. 1986. vol. 6, n. 2.

Williams D. Overview of skeletal injuries in youth sports. Sports Med 1993;15:38-42.

Zakas A, Mandroukas K, Karamouzis M, Panagiotopoulou G. Physical training, growth hormone and testosterone levels and blood pressure in prepubertal, pubertal and adolescent boys. Scand J Med Sci Sports 1994;4:113-118.